Narcisismo e Contemporaneidade
O próximo encontro do projeto PsiCULTserá realizado no dia 13, quarta-feira, às 19h30, na Área de Convivência do Sesc Sorocaba, com o tema “Narcisismo e contemporaneidade: o Eu e o Outro”, tendo como convidados: a psicanalista Regina Medeiros e o publicitário, especialista em Semiótica Psicanalítica, Raphael Taricano, ambos professores do INPSI. A entrada é gratuita e não é necessário inscrever-se. Local: Rua Barão de Piratininga, 555. O projeto é realizado pelo INPSI desde 2015 e neste ano conta com a parceria do Sesc Sorocaba.
Acompanhe o texto da psicanalista Regina Medeiros sobre o tema:
Narcisismo e Contemporaneidade
Ao abordarmos o tema narcisismo adentramos, sem sombra de dúvida, no campo complexo das relações subjetivas do sujeito consigo mesmo e com o outro.
O senso comum trata o tema de forma pejorativa, definindo “o indivíduo narcisista” de forma simplista, como sendo aquele que se ama incondicionalmente e atua no mundo de forma egocêntrica. Porém, embora a partir de Freud (Sobre o narcisismo: uma introdução (1914) ), quando ele adotou o mito de Narciso como símbolo deste componente da psique humana, muito se caminhou na direção de uma compreensão mais profunda à respeito.
As teorias psicanalíticas tem se mostrado coerentes à base freudiana no que tange a intensidade singular do narcisismo em cada indivíduo em relação à gênese do ego e a constituição do sujeito, destacando sua relação direta com o desenvolvimento da sexualidade humana. Importante ressaltarmos a distinção entre Narcisismo e Transtorno de Personalidade Narcísica.
O primeiro, em linhas gerais, diferentemente da visão do senso comum, podemos definir como sendo o integrador e protetor da personalidade e do psiquismo. Já o segundo, catalogado inclusive no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Desorders – DSM – IV), se refere à uma patologia onde a disfuncionalidade de um superego atrofiado e um eu idealizado, promove a cisão dos objetos em bons (super idealizados) e maus (desvalorizados), desconectando o sujeito da possibilidade de relações baseadas na realidade das imperfeições humanas.
Pensando a contemporaneidade, portanto as inovações de uma cultura em processo de intensas transformações fatalmente exigem da mesma forma, mudanças na forma de atuação do sujeito nessas relações consigo mesmo e nas suas relações com o outro, uma vez que vivemos tempos de indefinições temporárias de papéis antes solidamente definidos.
Transita o sujeito ainda confuso num mundo virtual em que a imagem tomou espaço nas relações, minimizando surpreendentemente a importância dos vínculos, e as redes sociais são parâmetros reais dessa ocorrência no nosso cotidiano. Portanto, da mesma forma podemos considerar as sensíveis interferências no “modus operandi” desse novo sujeito que está se constituindo gradualmente e inegavelmente provocando os aspectos narcísicos de sua constituição que são afetados incisivamente.
Ainda pensando na atualidade, agora no aspecto da atuação clínica de psicólogos e psicanalistas, testemunhamos visível migração das demandas dos quadros neuróticos para as patologias narcísicas. Podemos relacionar esse fenômeno, consequência do referido processo de transformação cultural, sem sombra de dúvida à uma visível fragmentação do sujeito, gerando as chamadas patologias dos narcisismo, tais como: depressão, drogadição, anorexia, bulimia, adicções em geral até as síndromes mais complexas.
Narcisismo sempre foi tema de extrema relevância para o aprofundamento da compreensão da atuação humana, porém entendo que nos dias de hoje vivemos sob o “signo do narcisismo” e a psicanálise tem sido de extrema importância no aprofundamento da compreensão das subjetividades que compõem essa atuação. Compreensão inclusive, que prescinde ser a partir da constituição do sujeito psíquico, seu funcionamento singular e trazendo o conhecimento de até que ponto está aparelhado psiquicamente esse sujeito, para o enfrentamento das novas exigências que uma nova forma de atuar no mundo irá lhe solicitar.
Importante lembrarmos que, todo e qualquer processo de uma melhor compreensão da subjetividade humana, e neste caso sobre o componente narcísico que habita a psique humana, deve estar sempre à serviço de minimizar o sofrimento psíquico que aflige o ser humano.
É para isso que estaremos no próximo dia 13 de abril expondo um pouco mais a respeito, na busca fiel ao criador da Psicanálise, em torná-la compreensível à todos os interessados e seus benefícios acessíveis ao maior número de pessoas possível. Até lá!
Regina Medeiros
Psicanalista
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